Encontre psicanalistas membros e membros filiados

Palavras do Presidente

Caros colegas,

É com muita honra e satisfação que assumo o cargo de presidente da SBPSP, satisfação compartilhada pela ótima e experiente equipe de colegas que constitui esta nova diretoria. Além de agradecer a confiança depositada em nosso grupo gostaria de compartilhar com vocês um sentimento pessoal de gratidão: ao Brasil, que me recebeu como imigrante e a esta casa e aos colegas e amigos que nela encontrei – gratidão pelo acolhimento e pela possibilidade que me ofereceram de crescer e me desenvolver como pessoa e como psicanalista.

Parabenizamos o trabalho sério e dedicado realizado em muitas frentes pela diretoria que nos precedeu. Agradecemos especialmente a Nilde Parada Franch e a toda sua equipe pela generosidade e transparência neste processo de passagem, assim como a nosso experiente e dedicado quadro de funcionários, que de tempos em tempos tem que se adaptar a novas modalidades de gestão.

O tempo que antecedeu à montagem de nossa chapa não foi curto: foi um tempo de conversas, de diálogo com colegas, lideranças de diferentes grupos da instituição, membros filiados, e várias reuniões sobre distintos setores de nossa instituição, das quais participaram colegas identificados com os diferentes grupos que integram a vida científica e política da Sociedade. Estamos cientes da nossa responsabilidade e da complexidade da tarefa. Sabemos das dificuldades que muitas vezes impediram um diálogo criativo e construtivo em nossa vida institucional. No entanto, aceitamos este desafio confiantes de que, na maioria de nossos membros, há um genuíno desejo de parceria e superação.

É inerente a nosso campo um paradoxo constitutivo: entre a singularidade da experiência analítica, que se dá na intimidade artesanal da clínica, e o campo da vida institucional, no qual os fenômenos grupais, o pluralismo de perspectivas, a gestão da vida científica e as múltiplas atividades, inclusive administrativas, obedecem a outras lógicas e registros subjetivos. Assim, trataremos de trabalhar com afinco e respeito, sem a pretensão racionalista de desconstruir esse paradoxo, mas contribuir para criar as condições para que esse paradoxo opere construtivamente.

Nossa perspectiva sobre o lugar que almejamos ocupar como psicanalistas e Instituição na cena cultural e na sociedade em que vivemos e atuamos faz parte do clima institucional. Este é um elemento fundamental no desenvolvimento científico e na formação analítica ao lado do clássico tripé. Assistimos com entusiasmo ao renovado interesse pela inserção social da psicanálise manifesto na IPA, FEPAL e FEBRAPSI e à retomada do eixo freudiano sobre o lugar da cultura na constituição da subjetividade e do mal-estar. Interesse vinculado ao aprofundamento e aprimoramento clínico e teórico de nossa disciplina. Neste sentido, daremos continuidade a projetos nessa direção implantados em gestões anteriores bem como desenvolveremos novas ideias e iniciativas nessas frentes.

Todos sabemos que desde os tempos de seu fundador, a psicanálise não habitou um mundo pacífico, livre de conflitos: duas guerras mundiais, perseguições e discriminações, Holocausto e matanças, assim como períodos obscuros de ditaduras, colocaram a psicanálise à prova, tanto em sua capacidade clínica como em sua capacidade de leitura de realidades adversas e do mal-estar que as acompanha.

O nosso tempo também não está livre de grandes diferenças socioeconômicas, violência, conflitos sociais e uma descrença nas instituições e nos nossos governantes. Essa realidade contribui para esvaziar o que concebemos como laço social (construído antes em torno de referências simbólicas mais estáveis); uma realidade que, longe de oferecer o amparo necessário, confirma o esgarçamento do tecido simbólico que sustenta a trama representacional, sobretudo porque, mais que nos convocar ao imperativo moral, parece apontar a vigência imaginária de um eu ideal narcísico, autorregulado e autossuficiente de gozo, arrogante e que busca o sucesso a qualquer preço. Trocando em miúdos, parece haver uma fragilidade simbólica, uma falha no tecido representacional e empático, permitindo um sem-freio das demandas pulsionais, encarnadas em atos violentos e espetaculares. Sem lugar a dúvidas estamos frente a novos desafios e demandas.

Assim, em face do atual momento, ao lado do respeito e reconhecimento do que aprendemos com nossos mestres e nossas tradições, devemos continuar aperfeiçoando nossa formação, nossa prática e nossas teorias. Vale dizer, no lugar de abandono ou apenas reverência ou idealização, retomar a ousadia dos pioneiros a energia e inquietação que os motivaram, tendo em vista uma perspectiva em direção ao futuro da nossa disciplina.

Há décadas reconhecemos um universo clínico cujo escopo se estende para além da classificação entre neurose e psicose. As diversas configurações não neuróticas e o mutante contexto socioeconômico e cultural ao qual fizemos referência demandam um manejo original da clínica para poder atender às necessidades singulares do analisando de hoje ao lado dos modelos mais consagrados, ampliando a reflexão sobre o dispositivo mais adequado para cada análise.

Os grupos de estudos, que hoje enriquecem a vida científica da nossa Sociedade, continuarão encontrando na diretoria espaço para interlocução e apoio. Acreditamos que, em sua diversidade, longe de diluir o rigor de nosso fazer clínico-teórico, ao contemplarem diferentes aspectos e perspectivas do fazer psicanalítico, contribuem para o enriquecimento da vida científica, a pesquisa clínica, o atendimento e diálogo com a comunidade e a formação de novos analistas. Faz parte de nosso projeto o aprimoramento de modos democráticos para a vida institucional e o livre debate de ideias, ancorados no respeito à multiplicidade de referenciais e interesses.

Assim como a subjetividade e a prática clínica não se prestam a uma padronização, consideramos que a formação no nosso Instituto deve manter a abertura à diversidade de modelos clínicos e de pensamento, o respeito aos caminhos singulares a serem trilhados pelos membros filiados, aspectos já presentes em nosso atual modelo de formação. Assumimos junto com a diretora do Instituto, Vera Regina e sua equipe, o compromisso de contribuir para fomentar a responsabilidade e a seriedade em todas as instâncias envolvidas no processo de formação, aspectos levantados no último congresso interno, destacando que não será o controle burocrático que permitirá atingir o nível de qualidade ao qual aspiramos, mas o diálogo e a reflexão solidamente construída.

Buscamos e incentivaremos a porosidade e a permeabilidade. Porosidade que será um dos motes da atual gestão: porosidade externa (outras instituições psicanalíticas, universidades, diferentes campos do saber, etc.) e interna. Teremos como ponto culminante o primeiro Simpósio da SBPSP, reforçando a necessidade de um diálogo produtivo entre as diferentes perspectivas e produções reinantes na Sociedade. Iremos promover um trabalho transversal no sentido de que, respeitando as especificidades de cada diretoria e do Instituto, estes troquem entre si e possam se enriquecer reciprocamente. Do mesmo modo, visamos uma maior integração da diretoria regional e de seus membros nas diferentes seções com o conjunto do corpo societário residente em São Paulo.

Concluindo este primeiro editorial, umas palavras sobre a ideia de passagem.

As passagens/galerias da Paris no sec. XIX aguçaram a imaginação de Walter Benjamin.Passagens, regiões-limite e de trânsito, entradas e ao mesmo tempo saídas, bela imagem para o que constantemente ocorre na vida mental e também no suceder institucional. O transitar das gerações, dos lugares ocupados, as transições… Momentos criativos, transformadores, mas também porque não, possibilitadores de turbulências.

Contamos com a colaboração e trabalho de todos, com sugestões, propostas e críticas construtivas, para que façamos desta passagem um momento rico e fecundo para a SBPSP

               

Bernardo Tanis
Presidente da SBPSP