Encontre psicanalistas membros e membros filiados

Palavras da Diretoria

Discute-se muito se a psicanálise é ciência ou arte, ou uma disciplina hermenêutica, prática que teria mais a ver com a captação dos significados. Encontraremos partidários sinceros e entusiasmados destas e de outras tendências mais, todos com argumentos pertinentes. Também veremos, desde o início da nossa história como disciplina, o esboço de movimentos de divisão (ou reprodução) em linhas diversas. O que caracterizaria então o psicanalista, independente da escola à qual se filie? Acredito que seja a identidade psicanalítica, obtida por meio de um longo processo de desenvolvimento. Não se trata de algo linear, previsível e visível.

De fato, a identidade psicanalítica, que implica a construção de um objeto psicanalítico interno, é sujeita a movimentos de fragmentação e reintegração, a ambivalências e a estados de “desnutrição” aguda. Ela se caracteriza, exatamente, pela capacidade de recomposição, pela existência de um motor interno cujo combustível é a curiosidade científica e a possibilidade de pensar e questionar a si próprio, de evitar ficar preso nas armadilhas constantes da vaidade e da onipotência, em suas várias versões.

A formação visa dar ao membro filiado condições adequadas para o desenvolvimento da identidade psicanalítica. Esta propicia, e ao mesmo tempo acompanha, a atitude psicanalítica, que por sua vez propicia e se faz acompanhar da escuta psicanalítica. São estruturas internas que modelam a apreensão das expressões do inconsciente do paciente por meio das qualidades psíquicas do analista. Podemos imaginar uma grande antena parabólica voltada para captar uma ampla gama de sinais que vão sendo processados na mente do analista em diversos níveis até se chegar a uma hipótese de compreensão, a que se segue, algumas vezes, uma formulação (eventualmente até uma ação) interpretativa. Independente da forma e do estilo da antena (se for uma parabólica psicanalítica), ela terá, por definição, seu foco dirigido às manifestações inconscientes das expectativas, das fantasias relacionais (ou transferência). Cria-se, assim, um campo de apreensão, que tem por sua vez uma função integradora, uma função de continência e de atribuição de significado. Talvez seja este conjunto que distingue a psicanálise de outras psicoterapias.

O analista terá que servir às projeções dos aspectos mais sombrios e inquietantes do paciente e portanto, precisará suportar os estados de ansiedade consequentes a não ser sempre o bom objeto. E se a análise não tem por objetivo precípuo amansar a ansiedade, mas sim oferecer compreensão sobre o mundo interno e condições para representá-lo, há que se dar oportunidade para um constante reencontro com o objeto, de modo que as ansiedades não sejam rapidamente contornadas por manobras defensivas. Daí a necessidade de alta frequência de sessões durante a formação – quatro por semana, como ocorre em nosso Instituto. Tal condição vale tanto para a experiência de análise pessoal como também para a segunda supervisão, de modo a permitir um contato mais íntimo com os aspectos destrutivos e construtivos da personalidade do analista em formação e de seu paciente…ainda que não seja esta uma garantia de tal aprofundamento.

Finalizando, duas vertentes possibilitam a construção, o reencontro e a vitalização do objeto psicanalítico interno: um processo analítico profundo que tenha conseguido gerar confiança no método, e uma vida institucional que alimente tal confiança e a curiosidade pela mente humana.

Desta forma o analista estará apto a fazer frente às diversas demandas da clínica contemporânea sem perder a perspectiva psicanalítica.

Vera Regina Jardim Ribeiro Marcondes Fonseca