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Grifes e autoestima

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Até que ponto a definição daquilo que somos passa por aquilo que temos? Na sociedade de consumo, ser e ter tornaram-se categorias que se retroalimentam. Nesse contexto, as grifes têm um papel fundamental: elas atestam o valor do indivíduo e servem como medida de prestígio social. É sobre esse tema o interessante artigo “Grifes e autoestima”, da psicanalista e membro da SBPSP, Marion Minerbo.

Grifes e autoestima

Marion Minerbo

A sociedade de consumo é como um organismo vivo que tem por objetivo sobreviver, se possível, para sempre. Como qualquer sistema cultural, forma o pano de fundo da nossa vida psíquica: lemos o mundo por meio dos significados que esse sistema nos oferece. Um desses significados é a grife. Ela funciona como um distintivo – como o dos xerifes, ou os brasões de famílias nobres – de prestígio social.

O distintivo distingue. Você pode não estar nem aí com a marca das roupas que veste, mas ser um publicitário que adoraria ter no seu portfólio clientes importantes. Se for um estudante, não medirá esforços para entrar – e contar que entrou –  em uma faculdade “de marca”.

A equivalência entre o valor da pessoa e seu prestígio social é completamente arbitrária, mas nem por isso menos eficaz. É que aprendemos a ler os signos de prestígio da mesma maneira como aprendemos a língua materna. Por isso, a grife tem o poder de nos dizer quem somos e acabam por influir diretamente em nossa autoestima.

Como se pode perceber, o fascínio pelas grifes é, até certo ponto, normal e inevitável. Muitas pessoas recorrem a um banho de loja quando estão se sentindo pra baixo. E esse comportamento pode se tornar patológico, originando, por exemplo, a compulsão a comprar. Isto acontece quando a pessoa não tem outras fontes de autoestima além das grifes.

Sabemos de nós e do nosso valor por meio dos vínculos que estabelecemos. O primeiro, naturalmente, é o da criança com a sua mãe. Com a participação do pai e depois das outras instituições, constroem-se as bases da autoestima, que podem ser mais ou menos sólidas. É com elas que iremos enfrentar a vida.

A autoestima, contudo, é uma construção contínua. Nosso sentimento de ser e de existir dependerá sempre, em alguma medida, de como as coisas que fazemos, criamos e realizamos são lidas e valorizadas por nós e pelas pessoas com as quais convivemos.

Por esse motivo, pessoas que não conseguem realizar coisas que considerem valiosas ou tenham medo de que não sejam valorizadas pelas pessoas significativas podem se tornar presas fáceis da sociedade de consumo. Esses indivíduos acabam assinando uma espécie de contrato, que chamamos de contrato narcísico. A pessoa se obriga a comprar, garantindo a sobrevivência da sociedade de consumo. Esta, em troca, lhe garante, ainda que de maneira efêmera, o sentimento de ser, de existir e de ter valor.



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