Freud e a clínica do século XXI
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Um homem só morre efetivamente depois que o último homem que o conheceu morre também. A frase de Borges, que serve como ponto de partida da biografia escrita por Elisabeth Roudinesco, soa oportuna para se pensar no aniversário de morte de Freud, dia 23 de setembro, e no lastro do pensamento freudiano na clínica dos tempos atuais.
A radicalidade do pensamento de Freud, que tira da consciência o eixo do funcionamento psíquico humano e marca a importância da sexualidade, produz um impacto que o situa como um dos grandes pensadores do século XX, cujo legado se estende para além da disciplina por ele criada.
São muitas as contribuições de Freud para se pensar a cultura, os fenômenos sociais e políticos, além da própria clínica psicanalítica. Como é próprio a um pensador de sua envergadura, sua teoria também é objeto de crítica, sendo uma delas expressa no questionamento sobre a eficácia do método psicanalítico na clínica do século XXI.
Renato Mezan, no livro O tronco e os ramos, dedica-se ao estudo da história da psicanálise, tendo como eixo de seu estudo a relação entre o pensamento de Freud e seus sucessores. Partindo das diferenças entre as escolas de psicanálise, Mezan indaga-se como a partir de um tronco comum, Freud, as escolas possam ter produzido teorizações tão diferentes entre si, mantendo-se, ainda assim, em um campo que é reconhecidamente o campo da psicanálise. Uma linha fecunda de análise que o autor nos apresenta, então, é a noção de “matriz clínica”, que consiste na base a partir da qual cada autor lê e indaga o texto freudiano. Dito de outro modo, no exercício de seu ofício, os psicanalistas têm contato com pacientes diferentes e é a partir de suas inquietações clínicas que cada analista/autor vai engendrar sua reflexão teórica, privilegiando, para tanto, aspectos da teoria freudiana que melhor permitem pensar os fenômenos com os quais se deparam.
O que me interessa marcar na citação do trabalho de Mezan é a consideração sobre a noção de matriz clínica como fonte de desenvolvimento do pensamento freudiano. Isto é, a radicalidade do método psicanalítico, que contém em seu bojo a possibilidade de escuta às diferentes expressões de sofrimento psíquico e aos modos particulares de se haver com este sofrimento. O subsequente esforço de teorização sobre esses fenômenos encontra na imagem do tronco e seus ramos a expressão de vigor e de possibilidade de constante renovação. Basta abrir os jornais, sair pelas ruas ou receber um novo paciente para constatamos que o terroir dos dias atuais constitui um terreno fértil para o desenvolvimento da psicanálise.
Em homenagem à sua contribuição para a psicanálise, escrevi breve reflexão sobre a influência de Freud para a clínica no século XXI neste outro artigo, publicado em 2015 no blog da AMF (Associação dos Membros Filiados ao Instituto de Psicanálise da SBPSP).
Cláudia Suannes é mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, membro filiado ao Instituto Durval Marcondes da SBPSP. Contato: clausuannes@gmail.com
2 replies on “Freud e a clínica do século XXI”
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