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Como é ser mãe de um adolescente?

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Karin Szapiro

Um antigo ditado judaico diz: “Filhos pequenos, problemas pequenos. Filhos grandes, problemas grandes”. Talvez o principal motivo seja porque quando os filhos crescem, novas questões surgem e a complexidade da vida aumenta. A chegada da adolescência e da puberdade põem um fim na criança que nossos filhos sabiam ser. Abre-se um novo ciclo de vida quando os jovens tornam-se estrangeiros para si mesmos e faz-se necessário a busca de uma nova identidade.  O caminho em direção ao mundo adulto que se percorre, com freqüência, é cheio de medos, conflitos e turbulências.

Afinal, como é ser mãe de um adolescente? Como lidar com esse momento desafiador quando os filhos entram em um novo ciclo de transformações? Muitas mães vivem a adolescência dos filhos como se elas próprias fossem expulsas de algum paraíso pois esse período vem com estranhamentos, sofrimento e angústias. Quando os filhos são pequenos, sua presença é fundamental. Elas conhecem tudo sobre suas crianças, participam ativamente de suas vidas, das conversas e festinhas. Quando eles crescem, a relação se transforma e as mães passam a ser bem menos requisitadas e necessárias. Por esse motivo, algumas mulheres chegam a ficar bastante ressentidas pois, de certo modo, se sentem sem lugar.

Pois bem, o tempo passou e chegou a hora dos filhos abandonarem o lugar da infância e, para tanto, é preciso se desgarrar e sair de baixo das asas dos pais que passam a ser vistos como ultrapassados e incapazes de compreendê-los.  É comum que os jovens desvalorizem seus conselhos e ajam com resistência e oposição. Esse é um momento de difícil enfrentamento onde a autoridade é testada ao limite. Simbolicamente, é o modo dos filhos viverem o tortuoso caminho da separação. E convenhamos, deixar a infância para trás e abrir mão da proteção dos pais em direção ao mundo adulto é um processo doloroso para todos os envolvidos. Doloroso, porém necessário.

Á medida que se aproxima a idade adulta, a sexualidade entra em ebulição, os jovens entram em contato com seus novos desejos, suas fantasias e conflitos. É natural que prefiram os seus pares para compartilhar a intimidade e dividir suas primeiras experiências sexuais e amorosas já que todos estão passando pelas mesmas fases. Ser acompanhado pelo grupo de amigos é reconfortante e fundamental pois dá uma sentimento de pertencimento que ajuda bastante e tem um valor inestimável.

Diante das mudanças irremediáveis que a passagem do tempo traz, os pais se perguntam como podem saber mais dos seus filhos e como é possível protegê-los. Para tanto, é preciso lembrar que uma relação é construída desde os primórdios e a cumplicidade entre pais e filhos acontece em um longo caminho. O respeito e a confiança são uma conquista delicada, resultados de uma convivência harmoniosa que se inicia desde o nascimento e se leva para toda a vida. A forma de se relacionar entre pais e filhos se transforma, por vezes se distancia, mas alguns pilares permanecem intactos. Pilares que foram construídos desde que os filhos vieram ao mundo, que incluem os valores transmitidos e tudo aquilo que foi aprendido no convívio até então.

Afinal, como lidar com os filhos que estão caminhando para a vida adulta? Sugiro responder com outra pergunta: Como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no lugar deles? A presença dos pais na adolescência dos filhos é muito importante, mas não deve ser sufocante. É preciso traquejo, bom senso e um bom manejo para ir soltando as rédeas aos poucos. Como numa dança, é preciso ajustá-las, apertá-las, soltá-las mais um pouco, apertá-las novamente, abrir os olhos, deixá-los semicerrados, deixar passar algumas coisas, outras não, pente fino, pente grosso, errar, acertar, reparar os erros, aparar as arestas. Uma das vantagens é que esse percurso vai se dando numa transformação paulatina. Assim, dá tempo de todos aprenderem juntos. Para saber mais sobre os filhos, nada melhor do que se aproximar deles, chamá-los para uma conversa, observá-los, olhar nos seus olhos e usar a intuição. O contato, a comunicação, a empatia e o respeito são imbatíveis e sempre serão os melhores caminhos.

Quando os filhos crescem, as mães naturalmente são convidadas a ocupar um novo lugar: não mais serão as mães da infância, mas sim mães de jovens. Elas estarão sempre presentes nas suas vidas, mesmo que à distância. Adolescência, cuja etimologia vem do latim, onde ad = “para” e olescere = “crescer”, significa literalmente “crescer para”. Sendo assim, este novo ciclo torna-se uma boa oportunidade para mães e filhos crescerem juntos e abrirem novas possibilidades para si e para suas vidas.

 

Karin Szapiro é psicanalista, membro filiado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, atende jovens e adultos em consultório particular.



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